sábado, 18 de junho de 2016

Proposta de atividade no âmbito da Língua Portuguesa, destinada a facilitar as aprendizagens de alunos com Dislexia



O planeamento de aula que se apresenta incide na área do Português e baseia-se na história “O senhor do seu nariz”, do livro “O Senhor do seu Nariz e outras histórias” de Álvaro de Magalhães.
À primeira vista, e ao olhar para a capa do livro, poder-nos-emos lembrar da famosíssima história do Pinóquio. Mas não, “O senhor do seu nariz”, um dos cinco contos deste livro, apresenta a história de um rapaz condenado a carregar desde a nascença um nariz do tamanho de um chouriço e que, aos poucos, transforma o seu insucesso em algo incrível. "A vida deste rapaz vai dar para o torto." foi o que disse a fada quando ele nasceu. E foi mesmo isso que aconteceu. Ao longo da história, os alunos são confrontados com as vantagens e desvantagens que essa diferença pode trazer. Ser diferente não era para ele nada fácil, mas, ainda assim, este rapaz encarava as dificuldades com coragem e positivismo - "A minha vida estava mesmo a dar para o torto. (...) Mas eu não me queixava. E não desistia nem desanimava." E foi pensando desta forma que foi crescendo, não só ele mas também o seu enorme nariz. A certa altura, o seu nariz acabou por ajudá-lo a melhorar a sua vida e a vida de toda aquela aldeia.
Com a exploração deste conto, pretende-se que os alunos não só olhem para as diferenças como algo positivo, mas também que deixem crescer a sua imaginação e criem histórias semelhantes, únicas e divertidas.
As atividades que foram planeadas respeitam as metas curriculares e têm os seguintes objetivos: “ler e ouvir textos literários, compreender o essencial dos textos escutados e lidos, ler para apreciar textos, dizer e escrever em termos pessoais e criativos, relacionar os textos com conhecimentos anteriores e compreendê-los, desenvolver o conhecimento da ortografia e desenvolver a escrita” (Ministério da Educação, 2015). Os domínios a trabalhar serão essencialmente os da oralidade, leitura e escrita. Para tal ter-se-á em conta os seguintes descritores de desempenho: “ler todas as palavras monossilábicas, dissilábicas e trissilábicas regulares e, salvo raras exceções, todas as palavras irregulares encontradas nos textos; ler um texto com articulação e entoação corretas; escrever pequenas textos, incluindo os seus elementos constituintes: quem, quando, onde, o quê, como; introduzir diálogos em textos narrativos; verificar se o texto contém as ideias previamente definidas; verificar a adequação do vocabulário usado; identificar e corrigir os erros de ortografia que o texto contenha; recontar os textos lidos; responder, oralmente e por escrito, de forma completa, a questões sobre os textos; praticar a leitura silenciosa” (Ministério da Educação, 2015).
Importa referir que o planeamento apresentado será sustentado pelos princípios da inclusão, onde a planificação e implementação de estratégias tencionam responder à diversidade e às características dos alunos, sobretudo, de alunos com Necessidades Educativas Especiais. A perspetiva da Escola Inclusiva é promover uma escola de sucesso para todos ao encarar os alunos como todos diferentes, necessitados de uma pedagogia diferenciada (Perrenoud, 1996 citado por Rodrigues, 2006) e cumprindo o direito à plena participação de todos na escola regular. (Rodrigues, 2006).



Planeamento:
Numa primeira etapa, o professor explora o livro com os alunos relativamente à capa e contracapa (título, autor, ilustrador e respetivas ilustrações). Posteriormente, o professor questiona os alunos quanto ao possível conteúdo da história e face à “chuva de ideias” são registadas frases curtas no quadro, para que depois da leitura se possa fazer uma comparação com o verdadeiro desenvolvimento. Segundo Antunes (2012), os professores devem recorrer a várias estratégias que auxiliem os alunos com dislexia. Neste sentido, o autor refere que “Poderão ser dadas pistas que indiquem para onde vai o texto, através, por exemplo, de conversa sobre a capa ou as ilustrações, ou parando a leitura e perguntando o que se imagina que vai suceder a seguir.” (p. 67).
Numa segunda etapa, é realizada a leitura da história com o suporte visual (projeção da história). De acordo com Orton (1937), citado por Hennigh (2003), para ajudar uma criança com Dislexia, o professor deve tentar desenvolver métodos de ensino-aprendizagem multissensoriais (os olhos, os ouvidos, etc.).
A primeira leitura é feita pelo professor, que vai fazendo pausas durante a leitura, questionando os alunos quanto ao desenvolvimento da história. Tal como refere Hennigh (2003), “(…) os professores e os alunos devem permitir que os seus padrões de leitura corretos sirvam de modelo à criança com dislexia (…)” (p. 35).
Terminada a leitura é feita a análise da “chuva de ideias” face ao conteúdo da história. Segue-se depois uma segunda leitura do texto, individual e em voz baixa. No trabalho individual, cada aluno circunda as palavras desconhecidas, com casos de leitura ou letras/sons mais complexos (de acordo com as necessidades de cada aluno). A aluna que apresenta NEE beneficia do apoio do professor, que acompanha a sua leitura e a ajuda a ler e sublinhar as palavras desconhecidas/ complexas.
Após a leitura, a terceira etapa é a análise de palavras, elaborando-se listas de palavras ou recorrendo-se à utilização do dicionário. Hennigh (2003) afirma que o professor pode encontrar outras formas de incentivar a criança disléxica a participar na aprendizagem, nomeadamente recorrendo ao uso do dicionário para descobrir o significado das palavras que desconhece, desenvolvendo a iniciativa do aluno.
No caso da aluna com NEE, o professor auxilia-a neste trabalho e, mais tarde, ser-lhe-á pedido que escreva uma frase para cada palavra desconhecida, para que a mesma possa consolidar esta aprendizagem e encontre mecanismos para memorizar as palavras em questão.
Já num outro momento (outra aula), o professor volta a mostrar as imagens do livro para que os alunos se lembrem do conteúdo da história. De seguida, o professor forma pares, tendo o cuidado de deixar a aluna com NEE com um colega que possa fazer um género de tutoria, alguém que tenha mais fluência na leitura e escrita e com quem a aluna tenha uma boa relação. É solicitado aos alunos que façam o reconto escrito da história que ouviram no dia anterior. “Para o aluno com dislexia, muitos são os benefícios que podem ocorrer no ensino através do recurso aos pares.” (Hennigh, 2003, p.64).
Sendo a área do Português a área onde esta aluna revela mais dificuldades, e de forma a promover a sua autoestima, o professor deve elogiar constantemente as suas conquistas dando-lhe os parabéns, sempre que possível, pelo trabalho desenvolvido. O incentivo e o feedback positivo do professor podem traduzir-se em grandes vitórias.
Relativamente a outras adequações, é de salientar que, quanto aos enunciados/textos apresentados à aluna com dislexia teríamos em atenção o tipo de letra utilizado, sendo o mais simples possível, sem curvas ou outros efeitos. A utilização de negrito em palavras fundamentais para a compreensão do enunciado seria também uma estratégia que utilizaríamos, pois ajudaria a aluna a ter sucesso nas tarefas a realizar. Os enunciados seriam curtos e claros. Quanto às instruções estas seriam explícitas e sempre que necessário seria importante questionar a aluna sobre o que esta entendeu acerca do que lhe foi pedido.
E ainda sugestões:
A história “O senhor do seu nariz” e as atividades propostas no âmbito da área do Português poderão ser o ponto de partida para outras atividades nas restantes áreas, de forma a promover a interdisciplinaridade e o envolvimento dos alunos no mundo mágico da fantasia, da diferença e da aprendizagem. Exemplo disso seria a ilustração dos recontos.
Como forma de respeitar as características e necessidades dos alunos, nomeadamente da aluna com NEE, o trabalho de grupo seria uma estratégia a implementar. A formação de grupos heterogéneos é uma forma de desenvolver interações positivas entre os alunos que aprendem em conjunto.
Também seria importante recorrer ao uso das Tecnologias de Informação e Comunicação, pois estas são sem dúvida um enorme contributo na educação, nomeadamente de alunos com NEE. As TIC possibilitam a utilização de novas estratégias de ensino-aprendizagem, potenciando as capacidades de cada um e indo ao encontro das características e necessidades individuais.

“O professor desempenha um papel importante na criação de ambientes educacionais positivos e enriquecedores.” (Correia, 2013, p. 96).
Referências bibliográficas de apoio

Antunes, N. L. (2012) Mal-entendidos - Da hiperactividade à Síndrome de Asperger, da dislexia às perturbações do sono. As respostas que procura. (6ª ed.) Lisboa: Verso da Kapa.

Correia, L. M. (2013). Inclusão e necessidades educativas especiais: Um guia para educadores e professores. Porto: Porto Editora.

Cruz, V. (1999). Dificuldades de aprendizagem. Fundamentos. Porto: Porto Editora.

Duarte, J. M. (2009). A Multimédia na dislexia. Porto: Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.

Hennigh, K.A. (2003). Compreender a dislexia: Um guia para pais e professores. Porto: Porto Editora.

Ministério da Educação (2015). Programa e metas curriculares de Português do Ensino Básico. Lisboa: Ministério da Educação.

Rodrigues, D. (2006). Educação inclusiva. Estamos a fazer progressos? Lisboa: Faculdade de Motricidade Humana Edições.


Selikowitz, M. (1998). Dislexia - Os factos. Lisboa: Texto Editora.

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