O discurso historiográfico tem
sofrido algumas alterações ao longo dos séculos, devido a condicionalismos
políticos, culturais, religiosos e científicos. Assim, o professor deverá estar
atento à evolução não só do "pensamento histórico", como também da
"produção historiográfica" para não correr o risco de enfraquecer o
seu ensino (PROENÇA, 1989) .
A
História como forma de conhecimento
Na Grécia Antiga, a História cumpria-se através da interpretação do
diversos elementos de mitologia e mitos,
cuja função era, de acordo com Proença (1989) “explicar a formação da realidade
pela intervenção de seres sobrenaturais”.
Transformações políticas, sociais e
económicas contribuíram para a alteração da conceção histórica.
Heródoto e Tucídides foram chamados dos
pais da História.
Heródoto narrou os factos com a intervenção divina. Tucídides procurou
narrar os factos com a objetividade e a racionalidade, sem a intervenção de entidades
sobrenaturais. Políbio seguiu-lhe o contributo histórico.
Outros contributos para a
Historiografia…
o Cristianismo, com a noção de
tempo contínuo e irreversível;
o Mundo Árabe , com a análise das estruturas
dos grupos sociais e a relação com os vários domínios, nomeadamente da economia,
da demografia ou da geografia;
a Idade Média, com a elevada produção e registos
documentais escritos, que concedeu uma função prática: verificação da autenticidade
e da veracidade dos documentos. Neste período, surgiram as crónicas, como as famosas Crónicas de
Fernão Lopes – primeiros documentos de História;
o Renascimento, época em que se desenvolveu o espírito crítico,
encarando-se a História como “um meio de fundamentação das críticas à sociedade
do tempo”.
o Iluminismo, com o campo de investigação da História a
alargar-se, sendo que o seu conteúdo não se limita apenas à narração da vida
dos reis e imperadores ou de episódios bélicos, o que contribuiu muito para o
desenvolvimento da História como ciência.
No século XVIII, incluiu-se a História nos programas
de ensino.
Aquando da Revolução Francesa, a
História adquiriu uma vertente política, de exaltação patriótica , o que limita
“os progressos da objetividade histórica” (PROENÇA, 1989) .
No século XIX, a História “continuava a ser umas vezes literatura,
outras vezes ideologia” (PROENÇA, 1989), contudo dá-se a especialização da
História, mesmo com todos os desenvolvimentos existentes em diversas áreas,
incluindo as relacionadas com a técnica e a arqueologia. Desta forma, concebeu-se
a História científica, ocorrendo uma libertação das
correntes ligadas à Filosofia.
No século XX, com a revista Annales, Marc Bloch, Lucien Fevbre e
um grupo de historiadores, fizeram esforços, para que ocorre-se uma “renovação
no conhecimento histórico” (PROENÇA, 1989; LE GOFF, 1997). Desta forma, a
História passou a ter o seu posto entre as outras ciências sociais. Parafraseando
Jacques Le Goff, a História-conto deu lugar à História-problema.
Segundo Cândida Proença, as ideias principais da renovação da História
baseiam-se nos seguintes pressupostos:
- Alargamento do centro de interesse do historiador, com o intuito de tomar a perceção da História total, numa perspetiva
analítica (LE GOFF, 1997), nas suas diversas vertentes;
- A História narrativa dá o seu lugar à História-problemas;
- Aumento do campo documental: a par de testemunhos escritos, arqueológicos
e iconográficos, o historiador analisa testemunhos gravados e orais. Os
documentos «imaginários» e os «silêncios da história» também são considerados relevantes
pelo historiador;
- Cuidado de deixar de lado uma visão unilinear da evolução e de relegar os
conflitos como centro dessa evolução;
- Interdisciplinaridade com outras áreas como - Sociologia, Antropologia,
Etnologia, Geografia, Psicologia, Linguística, Informática, …
- Considerar tanto a testemunha, como as situações da produção das provas ou
o conteúdo. Deste modo, há que relativizar o conhecimento histórico e completar
os vazios do puzzle da História, quando somente se tem acesso a uma parte da
realidade histórica.
Referências Bibliográficas:
ARENDS, R. I. (2008). Aprender a ensinar. (7.ª ed.). Lisboa: Mc
Graw-Hill.
LE GOFF, Jacques. (1997). “Memória-História”. In Einaudi,
vol 1, p. 233-246. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda.
MATOSO, José. (2002). “A Escrita da História”. In Obras
Completas, vol. 10, p. 89-100. Lisboa: Círculo de Leitores.
MOREIRA, Joaquim Mendes. (2001). “Ensinar História, Hoje”. In Revista
História, III série, vol. 2, p. 33-39. Porto: Faculdade de Letras.
PROENÇA,
Cândida (1989). Didática da História. p. 26-33. Lisboa:
Universidade Aberta.
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