sexta-feira, 17 de junho de 2016

Didática da História - Historiografia e ensino da História



discurso historiográfico tem sofrido algumas alterações ao longo dos séculos, devido a condicionalismos políticos, culturais, religiosos e científicos. Assim, o professor deverá estar atento à evolução não só do "pensamento histórico", como também da "produção historiográfica" para não correr o risco de enfraquecer o seu ensino (PROENÇA, 1989).

            A História como forma de conhecimento

Na Grécia Antiga, a História cumpria-se através da interpretação do diversos elementos de mitologia e mitos, cuja função era, de acordo com Proença (1989) “explicar a formação da realidade pela intervenção de seres sobrenaturais”.

Transformações políticas, sociais e económicas contribuíram para a alteração da conceção histórica.
Heródoto e Tucídides foram chamados  dos pais da História.
Heródoto narrou os factos com a intervenção divina. Tucídides procurou narrar os factos com a objetividade e a racionalidade, sem a intervenção de entidades sobrenaturais. Políbio seguiu-lhe o contributo histórico.

 HeródotoHalicarnasso, Turquia, 484 a.C. – 425 a.C.

Tucídides(Atenas, ca. 460 a.C. — Atenas, ca. 400 a.C.) 

Políbio – (Megalópolis, c. 203 a.C. — 120 a.C.)

Outros contributos para a Historiografia…
 o Cristianismo, com a noção de tempo contínuo e irreversível;
Mundo Árabe , com a análise das estruturas dos grupos sociais e a relação com os vários domínios, nomeadamente da economia, da demografia ou da geografia;
Idade Média, com a elevada produção e registos documentais escritos, que concedeu uma função prática: verificação da autenticidade e da veracidade dos documentos. Neste período, surgiram as crónicas, como as famosas Crónicas de Fernão Lopes – primeiros documentos de História;  
Renascimento, época em que se desenvolveu o espírito crítico, encarando-se a História como “um meio de fundamentação das críticas à sociedade do tempo”.
Iluminismo, com o campo de investigação da História a alargar-se, sendo que o seu conteúdo não se limita apenas à narração da vida dos reis e imperadores ou de episódios bélicos, o que contribuiu muito para o desenvolvimento da História como ciência.

No século XVIII, incluiu-se a História nos programas de ensino.
Aquando da Revolução Francesa, a História adquiriu uma vertente política, de exaltação patriótica , o que limita “os progressos da objetividade histórica” (PROENÇA, 1989).

No século XIX, a História “continuava a ser umas vezes literatura, outras vezes ideologia” (PROENÇA, 1989), contudo dá-se a especialização da História, mesmo com todos os desenvolvimentos existentes em diversas áreas, incluindo as relacionadas com a técnica e a arqueologia. Desta forma, concebeu-se a História científica, ocorrendo uma libertação das correntes ligadas à Filosofia.
No século XX, com a revista Annales, Marc Bloch, Lucien Fevbre e um grupo de historiadores, fizeram esforços, para que ocorre-se uma “renovação no conhecimento histórico” (PROENÇA, 1989; LE GOFF, 1997). Desta forma, a História passou a ter o seu posto entre as outras ciências sociais. Parafraseando Jacques Le Goff, a História-conto deu lugar à História-problema.

Segundo Cândida Proença, as ideias principais da renovação da História baseiam-se nos seguintes pressupostos:
- Alargamento do centro de interesse do historiador, com o intuito de tomar  a perceção da História total, numa perspetiva analítica (LE GOFF, 1997), nas suas diversas vertentes;
- A História narrativa dá o seu lugar à História-problemas;
- Aumento do campo documental: a par de testemunhos escritos, arqueológicos e iconográficos, o historiador analisa testemunhos gravados e orais. Os documentos «imaginários» e os «silêncios da história» também são considerados relevantes pelo historiador;
- Cuidado de deixar de lado uma visão unilinear da evolução e de relegar os conflitos como centro dessa evolução;
- Interdisciplinaridade com outras áreas como - Sociologia, Antropologia, Etnologia, Geografia, Psicologia, Linguística, Informática, …
- Considerar tanto a testemunha, como as situações da produção das provas ou o conteúdo. Deste modo, há que relativizar o conhecimento histórico e completar os vazios do puzzle da História, quando somente se tem acesso a uma parte da realidade histórica.



Referências Bibliográficas:
ARENDS, R. I. (2008). Aprender a ensinar. (7.ª ed.). Lisboa: Mc Graw-Hill.
LE GOFF, Jacques. (1997). “Memória-História”. In Einaudi, vol 1, p. 233-246. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda.
MATOSO, José. (2002). “A Escrita da História”. In Obras Completas, vol. 10, p. 89-100. Lisboa: Círculo de Leitores.
MOREIRA, Joaquim Mendes. (2001). “Ensinar História, Hoje”. In Revista História, III série, vol. 2, p. 33-39. Porto: Faculdade de Letras.

PROENÇA, Cândida (1989). Didática da História. p. 26-33. Lisboa: Universidade Aberta.

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