sexta-feira, 17 de junho de 2016

Didática da História e a sua multidimensionalidade


A escola, a formação e a educação têm sobre o ser humano uma ação modificadora e de enriquecimento. Contudo, de salientar que o Homem se encontra num processo de transformações permanentes e contínuas ao longo da sua vida.

De origem grega, o vocábulo didática significa arte de ensinar. No século XVII, Comenius homenageou o termo na sua obra Didática Magna. Didática tem como essência o ensino-aprendizagem de um determinado conteúdo. Este processo ensino-aprendizagem decorre através de interações, na sala de aula, com o conteúdo que é ensinada pelo docente e aprendido pelo aluno. Assim, o objetivo primordial de qualquer didática é ajudar na melhoria do processo de ensino-aprendizagem de certo conteúdo. O professor reflete sobre o quê e como ensinar, desenvolvendo, desta forma, uma posição reflexiva de integração dos conhecimentos na prática letiva (PROENÇA, 1989).

Tendo em consideração que nenhuma ciência é neutra e que a educação tem como objetivo transformar e modificar os seres humanos, não se poderá separar essa ação das presunções que lhe são implícitas. De acordo com José Mattoso, a formação estrutural do ser humano é elevada relevância, pois permite ao indivíduo viver de forma autónoma e com responsabilidade. Mais, para autor, o conhecimento do passado de forma global proporciona que o aluno detenha uma formação integral a partir da qual terá a possibilidade de compreender a vida em sociedade.

Assim, o professor é, para além de organizador e supervisor de situações de aprendizagem, um elemento mediador entre a aprendizagem dos seus alunos e os conhecimentos que, por estes, devem ser apreendidos (PROENÇA, 1989; MOREIRA, 2001). Desta forma,  professor não deve centrar a sua ação no produto, mas sim no processo de ensino-aprendizagem, considerando também o contexto e os alunos. Deve, por isso, não só deter conhecimentos científicos e técnicos, como também uma visão humanista dos alunos com que se depara e da relação que estabelece com eles, constituindo todo um processo integrado de global. Para além disso, deverá utilizar recursos didáticos multifacetados, diversas metodologias ativas de ensino e uma multiplicidade de estratégias, atividades e tarefas que apontem para a satisfação das necessidades de aprendizagem dos alunos e que desenvolvam, através da prática e da reflexão crítica, as suas competências, as suas atitudes e os seus valores (MOREIRA, 2001).

Na sua prática profissional, o professor, para além dos conhecimentos teóricos e dos alunos, necessita considerar a dimensão político-social da didática, pois leciona num contexto social concreto, integrado num contexto educativo específico, com alunos de diferentes origens e com expetativas variadas em relação à escola e ao seu papel formativo. Esta multidimensionalidade da didática, na especificidade da Didática da História, acarreta a confluência na ação educativa das óticas científica, técnica, humanista e político social. Assim, a ação da didática revela-se na globalidade dos atos humanos que a História pretende elucidar.  (PROENÇA, 1989). Por outro lado, o ensino deve partir de problemas práticos e não de atividades que conduzam à repetição e/ou reprodução memorialística dos conhecimentos (MATTOSO, 2002).

Segundo Mattoso (2002), a aplicação do modelo de aprendizagem baseado em problemas exige quatro cuidados:
1. Escolha de um problema;
2. Possibilite a identificação dos múltiplos fatores que fizeram evoluir os acontecimentos;
3. Dê relevância ao papel dos protagonistas individuais;
4. O docente releve a representatividade do objeto de estudo para a compreensão do comportamento humano socialmente.

Em jeito de conclusão, lecionar a disciplina de História e Geografia de Portugal apresenta, ao professor, um desafio pela frente: ensinar com técnicas motivadoras e seguindo uma linha estruturante da História, com apoio de metodologias ativas, que possibilitem a resolução de problemas por parte dos alunos. Mais, o professor terá de considerar muito bem o contexto e os alunos que poderão condicionar a sua prática. Contudo, em ressalva, os alunos são o centro do processo de ensino-aprendizagem, assim devem indo construir o seu conhecimento, assumindo um papel ativo, num processo de regulação e autorregulação de aprendizagens significativas (ARENDS, 2008; MOREIRA, 2001).



Referências Bibliográficas:
ARENDS, R. I. (2008). Aprender a ensinar. (7.ª ed.). Lisboa: Mc Graw-Hill.
LE GOFF, Jacques. (1997). “Memória-História”. In Einaudi, vol 1, p. 233-246. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda.
MATOSO, José. (2002). “A Escrita da História”. In Obras Completas, vol. 10, p. 89-100. Lisboa: Círculo de Leitores.
MOREIRA, Joaquim Mendes. (2001). “Ensinar História, Hoje”. In Revista História, III série, vol. 2, p. 33-39. Porto: Faculdade de Letras.

PROENÇA, Cândida (1989). Didática da História. p. 26-33. Lisboa: Universidade Aberta.

Sem comentários:

Enviar um comentário